quarta-feira, 5 de março de 2008

Por Justiça e Por Força Maior

Havia, em fevereiro, editado um post com um poema de rara beleza, mas que inadvertidamente foi dado como de autoria a Ruy Barbosa, quando na verdade a autora de tal primor é CLEIDE CANTON. Uma recente e grata descoberta que fiz.

É de bom tom esclarecer que, após pesquisa feita na net, obtive o falso resultado da autoria deste poema como sendo de Ruy...quando na verdade, apenas um último trecho pertence ao celebre discurso deste grande, tendo apenas seu último trecho constando no poema para estampar a beleza de uma composição que se completou com rara afinidade.

Por força maior, por puro sentimento autêntico de justiça e verdade, tanto o quanto por me negar a seguir esta tendência nefasta e preguiçosa que assola a net, em se ter preguiça e má vontade de dar ao autor seu mérito, nunca o separando de sua obra, publico novamente este poema, mas agora retificando meu erro. E por que não dizer, tendo um enorme prazer de poder repetir este post, que para mim trás um poema que relerei quantas vezes forem possíveis...e o tenho feito.



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SINTO VERGONHA DE MIM

Sinto vergonha de mim…
por ter sido educadora de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o “eu” feliz a qualquer custo,
buscando a tal “felicidade”
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos “floreios” para justificar
atos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre “contestar”,
voltar atrás
e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer…
Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.

Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo brasileiro !

***
” De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto “.

(Cleide Canton)

PS- Este texto poético foi muito divulgado como sendo de Ruy Barbosa, quando, na realidade, de Ruy é somente a colocação final, entre aspas, conforme o original. Também não se trata de releitura. A autoria cabe a Cleide Canton.



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Eu realmente, ao ler isso, senti vontade de chorar. Por ainda não tê-lo conhecido (Parca cultura!), pela sua veracidade e atualidade. Mas, mais que qualquer outra coisa, pela sua autenticidade, torna-se impressionante em retrato deste povo...um antigo e atemporal retrato!
Um agradecimento que sem palavras, de um Brasileiro, vai de coração a coração para a autora CEIDE CANTON.
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