domingo, 4 de novembro de 2007

Tropa de Elite – Cinema Nacional X Censura Velada e Jogos de Interesses

Os valores hoje estão tão distorcidos, que invasão de privacidade é hoje tido como Censura. È comum hoje ver, até mesmo pessoas que já gozam de um certo reconhecimento, trocar o sentido das coisas apenas por interesses próprios ou que lhes valerão no futuro, senão por algum tipo de corporativismo, que traduzido se entende apenas como covardia.

O filme “Tropa de Elite” realmente me impressionou, e impressionou muito mais pelas histórias que o cercaram, tanto o quanto ao filme. Na verdade, para mim,“Tropa de Elite” foi uma obra que marca o crescimento do Cinema Nacional, que saiu da infância com aquelas obras que só eram apreciadas pelos cineastas e artistas e repudiada pelo público, passou pela adolescência com filmes mais concisos, mais densos e agora, chega a maturidade com uma obra que desafia todos a sua volta. Desafia a realidade a colocando frente a frente com seus verdadeiros autores. Não poderíamos esperar boa coisa, e claro! Muitos jogos de interesses montados com as suas bases na hipocrisia e forja.

Uma das coisas mais impressionantes que soube, foi da estratégia usada pelos responsáveis por esta obra, que sabedores das dificuldades que iriam enfrentar, não fizeram força contra no caso de cópias ilegais que vazaram. Essas cópias tiveram destino certo aos morros, favelas e lugares mais carentes, que com toda certeza, seus integrantes não são frequentadores de cinemas. Aliás, cinemas hoje só em Shopping Centers, não é? E Shopping Centers não são os lugares dos Playboys e filinhas-de-papai? Como os cinemas não estão nos lugares freqüentados por pessoas mais carentes, chegaram aos mais carentes de uma forma bem inusitada, pra não dizer bem inteligente. Estratégia perfeita!

Sabiam também que este filme, por melhor que fosse, jamais seria escolhido a uma indicação de premiação internacional, pois expõe a realidade tal qual ela é, e como previsto, afrente dele foi escolhido outro que ao menos se compara em qualidade, veracidade e competência em linhas gerais da realização desta obra. Boicote? Quem sabe...pra mim ta claro que foi!

Muitos tem muito a esconder! Muitos tem a camuflar coisas em defesa do turismo, da competência (a falta) política, do que os filhinhos dos riquinhos e pessoas destacadas político/social e financeiramente contribuíram ou criaram para a sociedade chegar aonde está, etc, etc, etc...e ao ponto que chegou uma cidade que vive uma guerra urbana, por mais que queiram camuflar tal fato!

Este filme expõe a verdade, em detrimento aos políticos, ao turismo fantasioso (verdadeira armadilha aos de fora) presente nesta cidade, aos lunáticos que acham que um cigarrinho de maconha até ajuda a saúde...ou seja, a muitos! Ele iria, com toda certeza, atingir a muitos bem na testa! E atingiu!!

Atores contratados para este filme se surpreenderam nas filmagens ao verem que nos morros e favelas TODOS andam armados e livremente...é a lei do mais forte!...ou seja, não há lei, mas essas historias, das narrativas dos bastidores do filme não estão ganhando vulto por dar ainda mais crédito de que o filme só retratou a realidade, tal qual como ela é!

Procure saber sobre essas histórias, são por demais interessantes! Há um deles, que não é natural do Rio, que ficou surpreso com o cenário que encontrou e com as muitas faces do que presenciou. Nas primeiras externas, em uma cena, ele ficou abestalhado com a produção do filme quando chegou ao local e comentou com seus colegas: “cara, que produção que fizeram!! Realmente muito bom!! Olha só o pessoal todo armado, todos já em pontos certos e bem caracterizados!!!”...e o colega lhe disse: “ Isso não é da produção do filme não, é o pessoal daqui mesmo, nós é que vamos filmar no meio deles”..risos! Filmaram sempre aproveitando a coisa tal qual como ela é, e por isso não se pode querer muito da fotografia do filme, porque as cenas foram feitas se resvalando sempre na realidade local.

Interessantíssimo este filme, por ele em si, pela sua veracidade e até mesmo, por ser um fato histórico retratado em sua época, e não posteriormente.

Expõe à realidade o Playboyzinho e essas menininhas universitárias e suas filosofias “cabeças pensantes” e modo de vida, expõe os políticos e sua costumeira falta de capacidade, os artistas que tanto defenderam e usaram drogas como “onda e viagem”...expõe a TODOS que de certa forma, contribuíram e contribuem para esta realidade, ou seja, os verdadeiros sustentadores do tráfico e da criminalidade. Expões o pessoal que faz passeata para ‘pedir paz”, que não podem se indispor com os traficantes, ao menos com a polícia (pois depende de ambos e esta é a realidade! A um sustenta, e por outro é defendido, mesmo que não reconhecendo)...é muito engraçado, pra não dizer trágico, essa pessoas naquela grossa camada de gente fazendo passeata pra pedir paz, mas nunca para exigir o que lhes é de direito, ou seja, um governo competente, uma polícia verdadeira, honestidade, corruptos na cadeia...pedir que a população vote consciente e não vote em candidatos com ficha criminal (o grande e grosso filão presente no congresso, senado, câmaras municipais...a titulo do foro privilegiado que ganham ao serem eleitos!...vide Maluf!).

Pra mim, com toda a certeza, foi o melhor filme que vi nos últimos tempos...e bota tempo nisso!

Os criadores deste filme foram realmente muito corajosos, pois denunciaram exatamente todos e tudo o que teria de ser denunciado!

Pena que este fime ainda vai ser alvo de muitas...a ordem será fazê-lo cair em descrédito, porque denuncia uma realidade que ta lá, e que muitos ganham com ela, apesar de provocarem incontáveis mortes com isso...principalmente de crianças e gente inocente.

PRA QUEM NÃO É DO RIO

Me cansei de viver esta realidade e de prema, deixei a cidade do Rio, indo morar em uma cidade serrana daquele estado, a 150 Km de distância. Com dez anos fora, com o forte e incessante crescimento da criminalidade no Rio, este passou a “exportar” traficantes, e a cidade ao qual morava foi invadida e tomada por esses. Ao ver esta criminalidade agora mais presente e ver o estado das coisas no geral, a droga invadindo totalmente a juventude e todo o resto, decidi dar um basta de vez e me mudei para o nordeste...não queria criar meus filhos neste meio. A um passo de minha filha ir para a faculdade, não queria ver ela cursando uma, onde o mais comum é o backzinho consumido enquanto fazem um trabalho e um curso regado a muitas baladas com drogas. Na verdade, ela tem formação para passar batida por essas coisas, mas não queria vê-la nem perto deste tipo de coisa!

Ao chegarmos no nordeste, sendo reconhecidos como os “cariocas”, sempre nos perguntavam o porque saímos de uma cidade tão maravilhosa, e respondíamos ter sido pela violência. Sempre seguido a esta resposta, vinha outra pergunta: “Mas não é possível que seja tanta assim”...nessas ocasiões sempre ríamos e dizíamos que era muito mais do que suspeitavam...que os jornais não mostravam nem dez por cento do que era a realidade por lá...nos acostumamos a ver caras de descréditos, com olhos que dizem: “que pessoal exagerado!” Hoje vemos todas essas pessoas, que já assistiram ao filme, nos dizer: “Nossa, e não é exatamente como vocês diziam!! É impressionante!!”

Pena que este País não tenha um jornalismo real e presente, independente e correto. Se tivesse, este filme só seria uma constatação e não uma surpresa aos de fora.
Pra quem quer mais, leia o livro!

 
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